A relação entre a coloração dos rios do Amazonas e a incidência da malária foi estudada através de uma parceria da Fiocruz Amazônia, Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento. A abordagem extraordinária deu origem a um artigo publicado no Malaria Journal e comprovou que rios de águas escuras proporcionam um ambiente favorável que aumenta as chances de proliferar a doença.
O estudo comprovou que o mosquito Anopheles darlingi, transmissor da malária, se reproduz mais em ambientes mais ácidos e com menos sedimentos, como por exemplo as águas do Rio Negro. A importância dessa relação está na antecipação da identificação de regiões com maiores riscos de transmissão da doença. A previsibilidade permite a elaboração de um planejamento assertivo voltado diretamente para controle dos potenciais focos de malária na Amazônia.
Metodologia de estudo sobre potenciais focos da malária no Amazonas
As análises foram realizadas em uma região com características hidrográficas heterogêneas, ou seja, uma amostra ampla o suficiente para contrapor as diferentes colorações dos rios amazônicos e sua relação com os casos de malária entre os anos de 2003 a 2019 em 50 municípios banhados por eles. A pesquisa incluiu águas negras, brancas e mistas.
“Nesse contexto, o estudo propôs realizar uma abordagem baseada em hipóteses que correlacionaram as cores das águas e a incidência da doença, afim de determinar se as características do tipo de cor da água influenciam na distribuição da doença”, explica Fernanda Fonseca, principal autora do artigo e vice-chefe do Laboratório de Modelagem em Estatística e Geoprocessamento e Epidemiologia da Fiocruz Amazônia.
Rios com águas escuras são ambientes propícios para a malária
O estudo demonstrou que os sedimentos suspensos nos rios são um dos fatores que modificam as características físico-químicas das águas, provocando alteração na sua cor, diminuição da temperatura da água e aumento da turbidez, do pH e da condutividade. O Rio Negro apresenta baixos valores de concentração de sedimentos em suspensão ao longo do ano. Essas concentrações representam menos de 0,1% das encontradas no Rio Solimões. Além disso, o Rio Negro apresenta valores de outros parâmetros também inferiores quando comparados ao Rio Solimões, como velocidade, condutividade, turbidez e pH, assim como valores mais elevados para temperatura.
A análise desses dados indica que as características das águas negras quando comparadas às águas brancas podem proporcionar condições ainda mais adequadas para a presença do vetor da malária, que influencia a incidência da doença em locais às margens desses rios.
Os dados foram coletados através do cruzamento de informações oferecidas por imagens de satélite disponíveis no Google Earth, dados do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH), base de dados Observatório do Ambiente , Pesquisa em Hidrologia e Geodinâmica da Bacia Amazônica e do Sistema de Vigilância Epidemiológica de Malária, do Ministério da Saúde.
Luísa Oliveira*