Municípios do Amazonas correm o risco de sofrer um colapso por desabastecimento, se não for resolvido o problema da pirataria contra embarcações de combustíveis no estado. O alerta é de Carlo Faccio, diretor do ICL (Instituto Combustível Legal).
“A gente tem uma preocupação de que se isso não for sanado, se não se criar essa parceria estratégica entre órgão público, privado e ao mesmo tempo ter grupos, forças-tarefas preocupadas com a segurança da região, em algum momento podemos ter realmente um colapso em alguma área específica da região Norte”, afirmou.
No primeiro semestre de 2022 foram roubados 3,1 milhões de litros de gasolina e óleo diesel na região Norte, segundo o ICL. Dados do Sindarma (Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial do Amazonas) mostram que o lugar mais perigoso para o transporte de cargas é o Baixo Amazonas, entre Itacoatiara e Parintins, até a cidade de Juruti (PA). Os ataques piratas e a falta de segurança provocam prejuízos anuais de R$ 100 milhões às empresas de transporte.
Em março deste ano, Manaus sediou o Programa ATAC (Armazenamento, Transporte e Abastecimento de Combustíveis). O evento contou com representantes de entidades ligadas ao setor de combustíveis e órgãos públicos, que discutiram os problemas e soluções para a segurança do transporte de combustíveis pelos rios. De lá para cá, o avanço maior foi por parte do setor privado, diz o diretor do ICL.
“A parte da iniciativa privada tem evoluído a passos largos, a situação da pública ainda está a passos lentos, até porque a estrutura é diferente. Hoje a gente vê poucos investimentos sendo colocados na região Norte para essa área de segurança pública”, disse.
Encarecimento do produto
Faccio explica que não há um valor fixo do quanto é gasto pelas distribuidoras com a proteção de balsas transportadoras de combustível no Amazonas. O preço varia de acordo com o volume movimentado a cada mês.
O ICL não tem o total investido em segurança privada para o transporte de combustível no Estado, mas há uma estimativa do quanto a despesa incide na carga. “Os valores envolvidos chegam a ficar aproximadamente de R$ 0,20 a R$ 0,30 por litro”, disse Faccio.
O valor pago também depende da origem e destino da carga. “Diferentemente do rodoviário, que você tem uma previsão melhor, o aquaviário, no caso aí o fluvial, tem pontos bem extremos. Então o frete encarece muito. E daí claro que, proporcionalmente, a segurança também é agregada”.
Entre as principais ações das empresas de navegação estão: a contratação de escoltas de segurança para acompanhar os comboios e o monitoramento, via satélite, das embarcações 24 horas.
Faccio afirma que isso encarece o custo do sistema nos locais com roubos recorrentes, como a região do Rio Madeira. “Se o Rio Madeira se tornou um local crítico, onde tem várias abordagens de pirataria, automaticamente isso daí vai fazer com que todos tenham contratação de serviço privado. Então existe uma correlação direta sim. É possível que esses locais que são de alto risco acabem agregando valor maior do que aqueles que são de menor risco”, disse.
Ele explica que o repasse dos gastos só ocorre onde há alto investimento em segurança e o serviço é indispensável para que a carga chegue ao destino.
“A orla de Manaus tem diversas situações de cargas que são pirateadas, tanto na parte de abordagem do navio ou até mesmo na hora de descarregar é feita a tentativa de roubo. Nessas regiões que são maiores, com maior consumo e onde não é ainda uma zona crítica, ela [despesa de segurança privada] não é repassada”, afirmou.
As longas distâncias contribuem para o encarecimento. “Tem regiões que para chegar com a carga de diesel você fica quase um mês andando com uma balsa. Então provavelmente o custo atrelado de seguro ele é bem elevado para poder garantir que o produto chegue lá”, explicou o diretor do ICL.
Falta de fiscalização
Faccio ressalta que o problema não é o modal de transporte, mas a falta de fiscalização.
“Independente do tipo do modal que a gente poderia ter na região amazônica, se não tivesse uma fiscalização ostensiva, também seria prejudicado”, disse. “Se não tivesse a embarcação, teria o caminhão e o caminhão também seria roubado. Se não tivesse o caminhão e tivesse o locomotiva, a locomotiva também seria roubada”, acrescentou.
Outros crimes
O diretor do ICL alerta que a preocupação com o roubo vai além do uso do combustível para atender consumidores locais.
“Pode ter certeza, esse roubo aí ele não é só para abastecer situações que a gente chama de ‘formiguinhas’, que são outros pequenos consumidores na região. É um roubo para abastecer organizações criminosas que estão envolvidas com o tráfico de madeira, drogas, armas e até mesmo de pessoas”, alertou.
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