sábado, janeiro 4, 2025
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    ‘Muito mais um retorno humanitário do que do ponto de vista sanitário’

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    Manaus teve um sábado (26) marcado por diversas manifestações contra o decreto estadual que proibiu a abertura do comércio não essencial durante 15 dias. O governo decidiu fechar as atividades por conta do aumento de casos e internações pela Covid-19 no Amazonas, mas foi duramente criticado pelos comerciantes por determinar o fechamento durante as vendas de fim de ano, um dos períodos mais movimentados do comércio. Agora, o governo do estado voltou atrás e as atividades retornam nesta segunda-feira (28).

    Para o epidemiologista da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana, o retorno do comércio é uma atitude que já era esperada.

    “O retorno dessas atividades amanhã (28) é muito mais um retorno do ponto de vista humanitário, do que do ponto de vista sanitário. Não pôde ser baseado em critérios sanitários e nem epidemiológicos. Só tem a explicação econômica e de sobrevivência desse segmento”, declarou.

    Em dezembro, as internações por Covid-19 em Manaus tiveram aumento de 28%, em comparação com o mês de novembro. Até este sábado (26), quase 600 pessoas encontravam-se internadas com a doença em todo o estado, e mais de 5,1 mil pessoas morreram por complicações.

    O epidemiologista afirma que as autoridades evitaram fazer restrições mais radicais em meses atrás, e o grande problema das novas medidas foi deixá-las para dezembro. “As discussões das restrições deveriam ter acontecido, na pior das hipóteses, em outubro, quando tivemos o pico, até então, da segunda onda, que provavelmente vai ser transferido para dezembro”, disse.

    O que muda a partir de segunda-feira (28):

    • estabelecimentos comerciais poderão abrir de 8h às 16h, de segunda a sexta-feira. Nos fins de semana, eles devem operar apenas por delivery ou drive-thru;
    • shoppings da capital devem funcionar de 12h às 20h, de segunda a sexta. Nos fins de semana, também devem operar apenas por delivery ou drive-thru;
    • bares, restaurantes, lanchonetes, lojas de conveniência e flutuantes na modalidade restaurante devem funcionar pelo período de 6h diárias, somente até às 22h;
    • flutuantes estão proibidos de funcionar para locação;
    • realização de festas e eventos, tanto em espaços públicos quanto privados, permanecem proibidos.
    “Estamos vivendo isso [pico] agora, nessa segunda quinzena de dezembro. Chegou um certo ponto que você tem tantos lugares na cidade com pessoas contaminadas que se perde a noção da maior concentração de casos. Vivemos, hoje, o avanço de casos, internações e falta de leitos” , explicou.

    O epidemiologista da Fiocruz Amazônia foi contra a argumentação dos comerciantes de que a atividade comercial em Manaus não é responsável por aumento de casos de Covid. Ele afirma que restringir a circulação de pessoas é uma das principais formas de impedir o avanço do contágio.

    “Sabemos que quando determina medidas restritivas, a circulação de pessoas, escolas, comércio, você consegue reduzir a contaminação do novo coronavírus. Não é por acaso que a Europa inteira entrou em lockdown agora, para evitar a situação que Manaus passa pela segunda vez”, contou.

    Pressão de trabalhadores levou à reabertura

    Após manifestações pelas ruas de Manaus e ameaças de depredação na casa do governador Wilson Lima, representantes do governo e dos comerciantes se reuniram na noite deste sábado (26) para decidirem sobre a flexibilização do decreto.

    Segundo o governo, representantes do comércio e serviços irão firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Governo do Amazonas e Ministério Público do Estado (MPE) para o estabelecimento de novos critérios de funcionamento do setor, no período de 28 de dezembro a 11 de janeiro.

    O presidente interino da PanAmazônia, Belisário Arce, informou ao G1que as associações pediram, inicialmente, a revogação do decreto, mas o governador não concordou em razão do aumento de casos de Covid-19 e alta taxa de ocupação nos hospitais. Mediante isso, o governo apresentou uma proposta aos lojistas, que foi aceita.

    Arce explicou que o governo pediu apoio dos empresários e entidades para conter o crescimento de infectados. Os comerciantes devem oferecer transporte aos funcionários, máscaras e, além de tudo, orientá-los sobre normas de segurança.

    Para o presidente, o ideal seria a suspensão total do decreto, mas todas as entidades aceitaram a proposta do governo.

    “No meu ponto de vista, foi melhor aceitar essa flexibilização do que não aceitar nada. A lógica toda nessa história toda é o seguinte: não há comprovação em saber se essas restrições ao funcionamento normal da economia realmente impactam na pandemia. Será que é o comércio que está fazendo aumentar o contágio?”, disse Arce.

    Durante a reunião, o governador explicou que o decreto flexibilizado deve valer até o dia 11 de janeiro. Caso, a taxa de ocupação de leitos de UTI seja abaixo de 85%, o Estado poderá aumentar a flexibilização após uma nova reunião.

    O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas (Fecomércio-AM), Aderson Frota, que também foi convocado para a reunião, acredita que o comércio não deve ser “punido”.

    “O governo reconsiderou algumas normas do decreto pois argumentamos, com o governador e as autoridades do setor da saúde, que não é o funcionamento do comércio, propriamente dito, que gera a contaminação do vírus. Então, punir o comércio por estar funcionando, eu acho que não é o foco direto da questão”, afirmou.

    Frota ressaltou que, durante a reunião, o governador pediu que os representantes do comércio se engajem na obrigação de ajudar na fiscalização e acompanhar o comércio, de tal modo, que os casos não possam aumentar agressivamente.

    “Os empresários foram atendidos naquelas suas observações. Mais uma vez, conseguimos conversar com o governo e produzir um resultado que não prejudique a atividade comercial. Que a gente tenha uma parcela de responsabilidade na fiscalização para que as aglomerações sejam evitadas e no decorrer disso, também, as contaminações sejam diminuídas”, enfatizou.

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