quarta-feira, outubro 30, 2024
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    Bolsonaristas querem Globo na CPI das Fake News

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    A bancada bolsonarista na CPI das Fake News quer botar a mídia na berlinda. No interrogatório de um jornalista tido por membros da comissão como miliciano digital do presidente, em 5 de novembro, o deputado Filipe Barros (PSL-PR) disse que Jair Bolsonaro foi vítima de mentiras do Jornal Nacional. “Vamos convocar o William Bonner e a família Marinho também para explicar a relação da Rede Globo com fake news”, afirmou.

    O motivo da bronca é a reportagem do telejornal a revelar o depoimento de um porteiro que citou o presidente na investigação do assassinato de Marielle Franco. José Medeiros (Podemos-MT), outro deputado bolsonarista, apresentou à CPI a proposta de convocar quatro globais. Roberto Irineu Marinho, um dos donos, Carlos Henrique Schoeder, diretor-geral, Ali Kamel, diretor de jornalismo, e Bonner, apresentador.

    Será que a bancada oposicionista na CPI, PT à frente, apoiará a convocação? Lula acusa a Globo de mentir sobre seus processos judiciais e bateu no canal logo em seu primeiro discurso após a soltura. “Quero lutar pra provar que se existe uma quadrilha e um bando de mafioso nesse País, é essa maracutaia que eles fizeram para tentar, liderados pela Rede Globo de Televisão, criar a imagem de que o PT precisava ser criminalizado e de que o Lula era bandido.”

    E o chamado “centrão”, símbolo da velha política combatida pela Lava Jato, peça-chave em votações na CPI, como se comportará?

    Dúvidas à parte, petistas da CPI esperam que os próximos depoimentos sejam de melhor serventia do que o de Allan dos Santos. O interrogatório do ex-seminarista e teólogo, do site Terça Livre, referência para o conservador bolsonarista, chamou a atenção em dois momentos de silêncio. Ele recusou-se a definir o tipo de relação mantida com um trio de assessores de Bolsonaro descrito à CPI pelo deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) como um núcleo de produção de mentiras. E fez o mesmo quando perguntado sobre se era “militante” do presidente.

    A oposição espera mais emoção quando a CPI receber a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), em 20 de novembro. Após o racha no PSL entre o clã Bolsonaro e o restante do partido, Joice foi demitida pelo presidente do cargo de líder do governo no Congresso. E acabou vítima de milícias digitais nas redes sociais, por elas comparada a Peppa Pig, personagem de um desenho infantil.

    Para Joice, o responsável pela campanha difamatória é Eduardo Bolsonaro, filho do presidente que assumiu a liderança do PSL na Câmara em meio à briga. Ela disse da tribuna, aos prantos, ter juntado mais de 700 páginas de provas contra a “quadrilha virtual” que a atacou. E que pediria ao Conselho de Ética a cassação de Eduardo.

    Meio desanimada com a CPI após dois meses do início dos trabalhos, a oposição pretende fazer uma espécie de força-tarefa para organizar-se melhor daqui em diante, com reuniões nas tardes de segunda-feira – a comissão tem se reunido formalmente às terças e quartas. Enquanto isso, sopra desconfianças em relação ao presidente da CPI.

    Eleito senador pela Bahia graças ao petista Jaques Wagner, ex-governador do estado, eleito para o comando da comissão graças ao PT, Ângelo Coronel tem causado estranheza.

    Ele e a relatora da CPI, a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), de quem “roubou” a vaga de senador na Bahia, quase não se falam. A comissão aprovou em 18 de setembro um pedido para o Supremo Tribunal Federal compartilhar um inquérito existente por lá sobre fake news, mas até agora Coronel não providenciou o material. Quer falar pessoalmente com o presidente do STF, Dias Toffoli.

    A comissão também aprovou, em 10 de setembro, a requisição à Polícia Federal de um delegado e um agente que auxiliem as investigações. A PF não mandou ninguém ainda, e Coronel deixou por isso mesmo. Nem se empenha para materializar o pedido ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de compartilhamento das ações de cassação de Jair Bolsonaro por fake news na campanha.

    Há quem veja uma mudança na atitude de Coronel desde que o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), membro da CPI, tornou-se líder do governo no Congresso no lugar de Joice. Gomes achava que o governo deveria enquadrar Coronel através da direção do partido dele, o PSD. CartaCapital testemunhou-o a dizer isso a deputados bolsonaristas numa sessão de setembro da comissão.

    No mesmo dia em que Gomes assumiu a liderança de Bolsonaro, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, tomou café da manhã com o ex-capitão no Palácio da Alvorada.

    Reportagem da Revista Carta Capital*

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