sexta-feira, julho 26, 2024
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    Árvore mais alta da Amazônia está salva das queimadas

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    Enquanto diferentes partes da Amazônia pegavam fogo, uma equipe de 30 pessoas fazia uma perigosa viagem, primeiro de barco e depois a pé, em busca de uma árvore em especial na floresta que atraiu a atenção do mundo por causa das chamas.

    Pesquisadores de diferentes países, moradores locais, bombeiros e um escalador estavam à procura da árvore mais alta da Amazônia brasileira já registrada.

    Percorreram 220 quilômetros de barco e caminharam 10 quilômetros mata adentro até encontrarem um exemplar espécie Dinizia excelsa, também conhecida como Angelim Vermelho, dentro de uma unidade de conservação estadual de uso sustentável, a Floresta Estadual do Parú, no Pará.

    A árvore tem 88 metros de altura – algo equivalente a um prédio de 24 andares. Sua altura é um recorde para a Amazônia brasileira, que ainda não tinha registrado nenhuma árvore com mais de 70 metros de altura.

    A descoberta da equipe coordenada pelo professor Eric Bastos Gorgens, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), virou artigo na publicação acadêmica Frontiers in Ecology and the Environment, uma das mais conceituadas revistas de ecologia do mundo.

    Professor Eric Gorgens, coordenador da pesquisa: ‘Devido ao difícil acesso, a região (onde está a árvore mais alta) não é visada por madeireiros, agropecuaristas, nem garimpeiros. Até o momento’. (Foto: Divulgação/Jhonathan dos Santos)

    Risco de queimada

    A “gigante” da Amazônia estava intacta, bem longe dos focos de incêndios que alastraram por outras partes da floresta.

    “O risco (de queimada) é praticamente zero. A região é muito remota, distante de qualquer concentração humana, a mais próxima está a 220 quilômetros”, explica o professor da UFVJM. Ele coordenou a expedição, que contou também com pesquisadores das universidades de Oxford, Cambridge, Federal de Alagoas, Instituto Federal do Amapá, e Estadual do Amapá.

    “Além disso, a árvore está numa região cercada por dois grandes afluentes do Amazonas, os rios Parú e Jari. Devido ao difícil acesso, a região não é visada por madeireiros, agropecuaristas, nem garimpeiros”. “Até o momento”, pondera o professor.

    O exemplar da espécie Dinizia excelsa localizado pela equipe de Gorgens não é a única árvore gigante, apesar de ser a mais alta já registrada na Amazônia brasileira.

    Sete áreas de ‘árvores gigantes’

    Antes de encarar a viagem pelo rio Jari, pesquisadores de universidades do Brasil, Finlândia e Reino Unido já tinham analisado dados de 594 coleções de árvores espalhadas por toda a Amazônia brasileira.

    Usando uma espécie de “radar laser” que faz sensoriamento remoto, os pesquisadores identificaram sete regiões com árvores gigantes, todas com altura superior a 80 metros.

    Para validar as informações obtidas pelo sensor remoto, a expedição Jari-Paru foi realizada entre os dias 14 e 24 de agosto. (Foto: Divulgação/Jhonathan dos Santos)

    “O que é extraordinário para a Amazônia brasileira, visto que não havia registros de árvores acima de 70 metros”, diz o coordenador do projeto.

    Seis dessas coleções estavam região do Rio Jari, entre os estados do Amapá e Pará, incluindo a gingante mor.

    Para validar as informações obtidas pelo sensor remoto, a expedição Jari-Paru partiu da cidade de Laranjal do Jari, no Amapá.

    Entre os dias 14 e 24 de agosto, as 30 pessoas da equipe se dividiram em quatro barcos para subir e descer o rio, enfrentando corredeiras e cachoeiras.

    “A região do Jari é uma das regiões mais isoladas da Amazônia e o único contato da expedição com a civilização se dava por equipamentos SPOTs, um rastreador e comunicador por satélite para situações de emergência”, conta o professor.

    Localizaram outros exemplares de Argelim Vermelho, com diâmetros que variam de dois a três metros, espécie valorizada no mercado de madeira. A equipe escalou árvores para coletar material botânico e validar a altura. “Foram utilizadas técnicas que não machucam a árvore”, explica o professor da UFVJM.

    Por que a descoberta é importante?

    Para o professor Eric Gorgens, a descoberta da árvore mais alta da Amazônia brasileira é uma prova de como ainda se conhece pouco sobre a floresta e mostra a importância da preservação.

    “Toda vez que a ciência encontra algo nunca antes imaginado, acende um alerta voltado para a preservação. Imagina a quantidade de plantas, animais, insetos entre outras coisas que ainda estão para ser descobertos”, afirma.

    As árvores gigantes localizadas na Amazônia são conhecidas conhecidas como Angelim Vermelho e têm diâmetros que variaram de 2 a 3 metros. (Foto: Divulgação/Jhonathan dos Santos)

    “As nossas florestas possuem uma riqueza já conhecida que ninguém discute, mas ainda reservam segredos que levam tempo e dedicação para sua descoberta. A exploração não planejada, sem a adoção de práticas sustentáveis, voltado somente para a produção, compromete a manutenção dos nossos recursos naturais”, avalia.

    Gorgens classifica a existência de uma árvore de 88 metros de altura como “extraordinária” para a Amazônia brasileira. O professor diz ainda que crescer em altura é um desafio para as árvores.

    “As árvores altas são mais propensas à quebra e à queda, seja por vento, ou seja por não aguentar o próprio peso. As rajadas causam um torque na base da árvore, levando o fuste à um alto estresse. Outro fator que limita o crescimento em altura é o suprimento de água para copa. À medida que as árvores se tornam mais altas, o aumento da resistência hidráulica e o peso da coluna de água aumenta o estresse hídrico”.

    ‘Crescer em altura é um desafio para as árvores’, diz o professor que coordenou expedição para encontrar árvore mais alta da Amazônia. (Foto: Divulgação/Jhonathan dos Santos)

    Por isso, diz ele, árvores gigantes são consideradas um evento raro.

    O engenheiro florestal Matheus Nunes, da Universidade de Helsinque, na Finlândia, destaca a importância da descoberta e da existência das árvores gigantes para o ecossistema.

    Além de afirmar que esses raros exemplares da flora são um laboratório natural para conhecer como elas chegaram a tais alturas, elas têm um papel fundamental no ciclo do carbono. “Pois elas têm maior biomassa e, portanto, são capazes de sequestrar mais carbono”, explica.

    A árvore mais alta da Amazônia foi localizada a 10 km floresta adento, a partir da margem do rio Jari. (Foto: Divulgação/Jhonathan dos Santos)

    Nunes identificou a árvore tropical mais alta do mundo na Malásia em 2015, quando encontrou dois exemplares do gênero Shorea, uma com 90,6 metros e a outra 89,5 metros.

    Ambas superaram o recorde mundial de 2007, quando norte-americanos encontraram, numa outra região da Malásia, uma árvore de pouco mais de 88 metros – que, até a descoberta do pesquisador brasileiro, em agosto de 2015, era considerada a árvore mais alta dos trópicos.

    “A derrubada de tais árvores iria na contramão de várias discussões sobre sequestro de carbono para desacelerar as mudanças climáticas e devem ser definitivamente levadas como estratégias para conservação das florestas na região”, completa Nunes, que não participou da expedição, mas ajudou a rastrear a Amazônia brasileira em busca de gigantes.

    Partindo da cidade de Laranjal do Jari, uma equipe de 30 pessoas percorreu um trajeto de aproximadamente 220 km por rio e 10 km por terra até localizar a árvore mais alta da Amazônia. (Foto: Divulgação/Jhonathan dos Santos)

    O próximo para grupo é entender o que levou essas árvores a atingirem alturas tão elevadas na Amazônia, tanto do ponto de vista ambiental, quanto do ponto de vista fisiológico.

    Eric Gorgens diz que estudos como esse levam muito tempo. “Por isso, é essencial valorizar as unidades de conservação e estabelecer políticas públicas de longo prazo de incentivo à pesquisa e monitoramento de nossa flora”, avalia.
    *Informações G1.

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