Uma nova política de cotas para atrair alunos trans foi criada por universidades federais. Depois de negros, índios e pessoas com deficiência e de baixa renda as instituições ampliam ações de acolhimento ao grupo que têm baixa presença na educação superior.
Pesquisa da Andifes (entidade de reitores) com 424 mil estudantes matriculados nas federais mostra que apenas 0,1% se declarou homem trans e 0,1% mulher trans.
Segundo levantamento da Folha de São Paulo, há cotas específicas para alunos dessa categoria em ao menos 12 das 63 universidades públicas —equivale a 19% do total.
A inserção de trans no mundo acadêmico passou a ser registrada a partir da segunda metade desta década.
Esse tipo de cota tem ganhado mais fôlego na pós-graduação. Nove universidades federais, como as do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e de Brasília, mantêm vagas para transgêneros em ao menos um de seus programas de mestrado e doutorado.
Já nas federais do ABC, da Bahia e do Sul da Bahia, as cotas também se estenderam aos cursos de graduação. A seleção de cotistas trans é feita em processos seletivos promovidos pelas próprias instituições ou por meio do Sisu, que utiliza notas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Na pós, os cotistas trans são escolhidos, geralmente, em fases que envolvem análise de currículo, entrevista e prova.
Ações afirmativas
A principal demanda dos coletivos LGBTs e das universidades é pela ampliação da participação de mulheres trans entre os cotistas.
No país que mais mata trans no mundo —163 casos em 2018, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais—, o ideal é proteger a infância das pessoas transgêneros para elevar o nível educacional, diz Keila Simpson, presidente da entidade.
“É nessa fase que eles abandonam os estudos ou por preconceito ou por falta de apoio da família e da escola.”
Primeira a criar cotas na graduação para alunos trans, em 2017, a Universidade Federal do Sul da Bahia tenta reverter a baixa adesão de mulheres trans em seus cursos.
A instituição criou um cursinho preparatório para o Enem em Itabuna (317 km de Salvador) para travestis e trans, conta Sandro Ferreira, pró-reitor de Integração Social.
A iniciativa virou objeto de estudo do mestrado da professora de história Isabella dos Santos Silva, 32, também mulher trans e que assumiu a coordenação do projeto. Ela conta que foi em pontos de prostituição para convencer as meninas a estudar. “Entre 16 participantes, sete conseguiram entrar no ensino superior”, diz Isabella.
A continuidade das atividades do cursinho, segundo o pró-reitor, ficou comprometida. A instituição foi a mais afetada no país pelos cortes de verba do MEC, com redução de 53,96% de seu orçamento discricionário.
O MEC diz não ter “gestão sobre onde e como a instituição utilizará os recursos”.
*Com informações da Folha de SP