A preservação da floresta amazônica rende até R$ 7,2 mil mensais para agricultores que cultivam cacau no Amazonas. Para compradores da matéria-prima do chocolate, pode gerar rendimento de R$ 360 mil em um ano. Os dados são da Plataforma de Empréstimo Coletivo da Sitawi, organização sem fins lucrativos que permite investimentos em negócios de impacto positivo na Amazônia.
Artur Coimbra é fundador da Na’kau, organização que compra cacau selvagem cultivado por famílias que vivem às margens do rio Madeira, no Amazonas, para produzir chocolate 100% amazônico. A organização atua em sete municípios e adquire a fruta de 60 famílias ribeirinhas.
De acordo com Coimbra, a entidade paga três vezes mais que atravessadores pelo quilo do produto e capacita os agricultores locais, com a oferta de técnico de campo. Cada família chega a receber até R$ 7,2 mil na alta da safra de cacau.
“Entendemos que se pagamos mais e oferecemos assistência técnica e rural para essas famílias, estamos agregando valor para essas pessoas. Isso tudo resulta em conservação da floresta, porque o produtor que ali se encontra motivado e com boa autoestima, quer plantar cada vez mais cacau para gerar renda extra para a família”, diz Coimbra.
O empresário atua na Amazônia desde 2013 e conseguiu conservar mais de 5 mil hectares de agrofloresta, o que representa uma movimentação na economia de R$ 60 milhões.
Um dos agricultores que fornece para a Na’Kau é Joel Moreira, de 45 anos. “Hoje em dia sabemos qual o valor do cacau de melhor qualidade, fermentado, diferente do que a gente trabalhava atrás”, afirma. O agricultor mora com esposa e filho no município de Borba (a 149 quilômetros de Manaus), na margem esquerda do rio Madeira, zona rural.
A ideia é que as ações de conservação da Amazônia favoreçam toda a cadeia de negócios sustentáveis, indo do produtor ao empreendedor e chegando aos investidores em negócios de impacto social.
Henrique Bussacos, empresário que vive em Florianópolis (SC), a 4,4 mil quilômetros de Manaus, investiu na Na’kau por meio da Sitawi. “O investimento em negócios de impacto socioambientais positivos é o futuro. Não acredito neles como um nicho, mas como precursores de algo que vem por aí”, pontua Bussacos.
Leonardo Letelier, CEO da Sitawi Finanças do Bem, explica que o objetivo não é só emprestar recursos. “Queremos ajudar os empreendedores a ter uma atuação mais consistente, cada vez com mais impacto socioambiental positivo e desenvolvimento territorial na Amazônia”, diz.
Não é de hoje que a mensuração da floresta em pé aponta para um valor comercial mais rentável. Relatório da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos sobre Restauração de Paisagens e Ecossistemas, de 2019, indica que um hectare de floresta em pé na Amazônia gera, em média, R$ 3,5 mil por ano e no Cerrado em torno de R$ 2,3 mil.
Em sistemas agroflorestais esse rendimento pode chegar a mais de R$ 12 mil anuais. Já o mesmo hectare desmatado para a pecuária daria um lucro de R$ 60 a R$ 100 por ano.
Além do exemplo do cacau citado, há uma série de atividades extrativistas desenvolvidas no estado com base em recursos naturais da Amazônia. A FAS (Fundação Amazonas Sustentável) afirma que apoia prioritariamente a extração dos óleos vegetais de andiroba e muru-muru, coleta de castanha, manejo florestal sustentável de pequena escala (desenvolvido por comunitários), extração do açaí e manejo de lagos (pirarucu).
Dentro da agricultura familiar, no âmbito dos programas e projetos desenvolvidos pela FAS, são apoiadas as atividades ligadas à produção de farinha, plantio de guaraná, cacau, banana, melancia, verduras e hortaliças.
De acordo com a Fundação, em 2019, foram comercializados R$ 4,8 milhões em farinha, R$ 536,4 mil em guaraná, R$ 208,1 mil em cacau, R$ 3,8 milhões com banana e R$ 1,7 milhão com agricultura familiar. Em virtude da pandemia de Covid-19, o acompanhamento em 2020 foi suspenso. Os monitoramentos foram retomados este ano e estão em sistematização.
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