quinta-feira, novembro 21, 2024
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    ‘Abordagem para combater discurso de ódio não pode ser única’, diz coordenadora da ONG Safernet

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    Em um 2019 carregado de acontecimentos frequentes que nos bombardeiam através das telas dos celulares e computadores falar de segurança digital se torna uma prioridade de autoridades nacionais e internacionais que lidam com massacres como de Suzano e Christchurch, na Nova Zelândia – episódios potencializados e até exibidos ao vivo online, sustentados por discursos de ódio em forma de preconceito ou bullying.

    Em visita a Manaus, na tarde desta quarta-feira (21), a coordenadora do canal de Denúncias da Safernet, Juliana Cunha, ministrou uma palestra no 2º Workshop Cunhatã Digital que incentiva a participação feminina na Ciência e Tecnologia do Estado. Antes de chegar à capital amazonense Juliana esteve representando o Brasil numa reunião em Nova York com a relatora especial da ONU para Mulheres.

    A reportagem do Portal Projeta conversou com a psicóloga que explicou o trabalho da Safernet para coletar e punir crimes virtuais e combater o discurso de ódio online.

    PP: Em que contexto surgiu a ONG Safernet Brasil?

    Juliana: A Safernet nasceu quando a rede social mais popular no país ainda era o Orkut. Existiam muitas páginas de exploração sexual de crianças e as autoridades precisavam se organizar pra combater isso. Com o surgimento de novas redes sociais outras violências vieram crescendo, dentre elas: o racismo, incitação de crimes contra vida, homofobia, machismo, neonazismo, entre outras.

    PP: De que maneira vocês atuam para combater esses crimes?

    Juliana: Através de uma central de denúncias que é a única do Brasil coletamos os relatos que são acompanhados junto o Ministério Público Federal, a denúncia é feita de forma anônima e fica a disposição das autoridades. Em 2018 foram mais de 6 mil denúncias reportadas através da central e mais de 700 inquéritos foram instaurados.

    Projeta: Quais são os tipos de denúncias que mais chegam?

    Juliana: A questão do compartilhamento não consensual de imagens íntimas, especificamente os nudes, são essas as denúncias mais numerosas, que colocam a mulher numa posição de muita vulnerabilidade nesse ambiente, 69% das vítimas que procuram ajuda são mulheres. Em seguida vem o racismo, que representam 28% das denúncias de crimes de ódio. No período eleitoral, em 2018, também tivemos uma alta muito grande de denúncias relacionadas a xenofobia, por conta dos ataques aos nordestinos.

    Projeta: O que se pode dizer em relação a nossa região nesse cenário?

    Juliana:  A Safernet tem cooperação com Ministério Público aqui e no Pará, existem pessoas que estão trabalhando próximo a nós que são promotores e delegados mas sempre que a gente tem oportunidade de vir aqui a gente não recusa. Existem temas próprios que tem a ver com a identidade de vocês como questão indígena que não chega tanto no Sudeste ou Nordeste, isso é super importante porque a gente fica achando que a principal questão dessa região é de acesso a internet e a gente vê que não, que vocês estão produzindo muita coisa.

    Projeta: De que maneira você acredita que é possível combater o discurso de ódio?

    Juliana:  Eu diria que a abordagem pra enfrentar o discurso de ódio não pode ser única, não dá pra dizer que só precisa punir, mais leis, muitas vezes a gente acaba aderindo a uma discussão que é mais punitiva. Claro que a gente precisa aplicar melhor nossas leis mas pra isso a gente não precisa criar novas leis, a gente já tem leis que criminalizam, a gente precisa olhar pra esse problema e entender que ele tem raízes muito mais profundas. Eles não foram criados pela internet e que a gente precisa atacar com outras camadas também.

    Projeta: Você mencionou a publicação de imagens íntimas como o crime online mais denunciado. O que você diria para orientar nesses casos?

    Juliana: Temos feito campanhas para falar com estudantes e adolescentes, precisamos mudar a linguagem e parar de dizer o que é certo e o que é errado. É preciso ouvir mais da perspectiva deles (jovens e adolescentes), a gente acaba vindo com um discurso pronto que é “Ahh não manda nude”, isso é a primeira coisa que as pessoas dizem. Você vai na escola e o educador vai dizer isso, mas a gente esqueceu de entender que eles estão vivendo na internet, se relacionando, namorando e essa mensagem não vai chegar a essas pessoas assim.

    Projeta: Como essas informações podem favorecer o público que sofre com isso?

    Juliana: É saudável que eles vivenciem essas experiências, faz parte da construção da sexualidade na adolescência, a gente precisa olhar pra isso e entender. Todo mundo já foi adolescente, vivemos experiências, a diferença é que isso não foi parar na internet. Na minha geração as histórias aconteciam atrás do muro da escola, embaixo da escada do condomínio mas isso não ia parar na internet, agora isso tá parando e ficando na internet a gente precisa compreender que é natural, que é compreensível mas que se precisa conversar sobre as consequências.

    Para conhecer os projetos da Safernet Brasil para combater discurso de ódio na internet e também sua linha de denúncia, acesse o site.

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