No início deste mês, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento encontrou as substâncias monoetilenoglicol e dietilenoglicol na água usada para fabricação das cervejas Belorizontina, da cervejaria mineira Backer. A água contaminada é utilizada para resfriamento da mistura de ingredientes que compõe a cerveja após a sua fermentação. Essa água resfria o tanque sem entrar em contato direto com ele. Mas por ser uma água limpa e filtrada, ela também é incluída, posteriormente, no processo produtivo. Agora, o ministério investiga como essa substância foi parar na água.
As primeiras vítimas da intoxicação começaram a apresentar os sintomas no final do ano passado. A intoxicação provoca sintomas como mal-estar e dores abdominais. Os rins começam a parar de funcionar e depois aparecem sintomas neurológicos: problemas na visão e paralisia facial, que pode aumentar e chegar ao corpo inteiro. Nos casos mais graves, a pessoa só respira com a ajuda de aparelhos. Entre o Natal e as duas primeiras semanas deste ano, ninguém sabia o que estaria causando esses sintomas, e o número de casos aumentava em Minas.
Até o momento, a companhia é investigada pela morte de três pessoas que ingeriram a cerveja Belorizontina. Exames confirmaram a presença da substância dietilenoglicol no corpo de quatro pacientes. Os casos estão sendo apurados e foram registrados como síndrome nefroneural, cujos sintomas são náusea, vômito e dor abdominal, associados à insuficiência renal aguda de evolução rápida, com alterações neurológicas.
Produtos retirados de circulação
A cervejaria Backer retirou de circulação todas as suas cervejas e chopes produzidos desde outubro do ano passado, após determinação do Ministério da Agricultura. A suspensão da venda se manterá até que fique assegurado que os outros produtos da Backer não estão contaminados. “A medida é para preservar a saúde dos consumidores”, disse o ministério, em nota.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou o recolhimento da bebida em todo o País. As primeiras análises mostravam que apenas o tanque de número 10 da cervejaria estaria contaminado. Nele eram produzidas as marcas Belorizontina e a Capixaba, esta distribuída no Espírito Santo e de rótulo diferente, mas de mesma fórmula do líquido presente na capital mineira. Porém, o avanço das investigações da força-tarefa mostrou que vários dos 70 tanques da empresa foram contaminados, e, portanto, vários lotes dos produtos.
Além da Belorizontina e da Capixaba, as cervejas que também tiveram lotes contaminados são Capitão Senra, Pele Vermelha, Fargo 46, Backer Pilsen, Brown e Backer D2. O Ministério da Agricultura e Abastecimento reiterou por nota que todos os produtos da cervejaria Backer já estavam e continuam sendo retirados do mercado. O recolhimento está sendo realizado por ações dos serviços de fiscalização e pela própria empresa.
Possível sabotagem
A cervejaria Backer chegou a apresentar à Justiça um vídeo com um suposto indício de sabotagem nos barris de monoetilenoglicol. O vídeo foi anexado ao pedido da Backer para retomar as atividades na empresa.
Substância já matou pessoas em 10 países
O primeiro registro de intoxicação pelo dietilenoglicol é de 1937, quando 105 pessoas morreram nos Estados Unidos. A substância foi usada em um composto de sulfanilamida, medicamento com ação antimicrobiana. Quase um terço dos 353 pacientes que tiveram contato com o produto, atualmente pouco usado, morreu. O caso alterou a legislação norte-americana para a produção de medicamentos.
Por Cíntia Ferreira, do Portal Projeta