Durante sua 45ª conferência de cúpula, os chefes de Estado e governo do G7 acordaram quanto ao envio de ajuda aos países afetados pelos incêndios na Região Amazônica “o mais rápido possível”, declarou neste domingo (25) o presidente francês, Emmanuel Macron. A reportagem é da emissora pública internacional da Alemanha, Deutsche Welle.
Ele acrescentou que os líderes das maiores potências econômicas avançadas estão se aproximando de um consenso sobre como ajudar a extinguir o fogo e reparar os danos resultantes. Trata-se de encontrar os mecanismos apropriados, tanto técnicos quanto financeiros, afirmou, e “tudo depende dos países da Amazônia”, que compreensivelmente defendem sua soberania.
“Mas o que está em jogo na Amazônia, para esses países e para a comunidade internacional, em termos de biodiversidade, oxigênio, a luta contra o aquecimento global, é de tal ordem, que esse reflorestamento tem que ser feito”, advertiu.
Embora 60% da Região Amazônica se situe no Brasil, a maior floresta do mundo também se estende por oito outros países: Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela, e até mesmo o departamento ultramarino da França, Guiana Francesa.
Anfitrião da cúpula do G7, que ocorre em Biarritz, na costa sudoeste francesa, Macron colocara os incêndios amazônicos no topo da agenda da cimeira, após declará-los emergência global.
Um vídeo gravado pelas câmeras oficiais da cúpula mostrou uma reunião em que líderes europeus discutem justamente a crise na Amazônia. Nas imagens, divulgadas no sábado pela agência Bloomberg, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, aparece afirmando aos colegas que pretende discutir a situação das queimadas diretamente com o presidente Jair Bolsonaro.
Além de Merkel e Macron, também estavam à mesa o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o premiê italiano, Giuseppe Conte.
A chefe de governo alemã afirma que ligará para o brasileiro na próxima semana “para que ele não tenha a impressão de que estamos trabalhando contra ele”. Johnson diz em seguida que acha isso “importante”. Até Macron, que primeiro pergunta de quem eles estão falando, para confirmar se se trata de Bolsonaro, expressa seu apoio à ligação. “Eu vou ligar”, confirma Merkel.
O vídeo não parece ter sido gravado intencionalmente para ir a público. Em certo momento da conversa, uma mão cobre as lentes da câmera, e a imagem é cortada.
WATCH: Trump and Macron greet each another before the #G7Summit opening dinner.
Earlier, a @business report said Macron was attempting to isolate and embarrass President Donald Trump by putting niche issues like climate change on the agenda: https://t.co/yjRMJpNxoD pic.twitter.com/cTiHM83moh
— Bloomberg TicToc (@tictoc) August 24, 2019
Bolsonaro compartilhou o vídeo em seu Facebook na manhã deste domingo (25), afirmando que sempre buscou o diálogo com os líderes do G7.
“O Brasil é um país que recupera sua credibilidade e faz comércio com praticamente o mundo todo. Somos uma das maiores democracias do mundo, comprometidos com a proteção ambiental e respeitamos a soberania de cada país”, escreve o presidente na postagem.
“Meu muito obrigado a dezenas de chefes de Estado que me ouviram e nos ajudaram a superar uma crise que só interessava aos que querem enfraquecer o Brasil”, conclui.
Alvo de comoção internacional, a crise de incêndios na Amazônia levou líderes da França e de outros países a criticarem a política ambiental do governo brasileiro, gerando inclusive uma troca de farpas entre Macron e Bolsonaro.
Após o francês ter convocado o debate sobre a questão na cúpula do G7, o líder brasileiro acusou Macron de “instrumentalizar uma questão interna” do Brasil para “ganhos políticos”. “A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século 21”, disse Bolsonaro na sexta-feira.
Acordo UE-Mercosul divide europeus
Numa iniciativa controversa, Macron também ameaçou não ratificar o acordo de livre-comércio assinado entre a União Europeia (UE) e o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), devido às “mentiras” de Bolsonaro quanto a seu real comprometimento climático e ambiental.
O acordo UE-Mercosul foi fechado em junho, à época da cúpula do G20 no Japão, após 20 anos de negociações. Macron afirmara na ocasião que o fechamento só foi bem-sucedido porque Bolsonaro deu garantias de preservação do meio ambiente brasileiro. Os parlamentos de todos os países-membros do bloco europeu ainda precisam ratificar o pacto.
Na linha de Macron, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, afirmou no sábado que considera difícil imaginar que a União Europeia ratifique o acordo enquanto o Brasil não detém os incêndios florestais na Amazônia.
“A Floresta Amazônica em chamas tornou-se outro sinal deprimente dos nossos tempos. É claro que apoiamos o acordo UE-Mercosul, que também se trata de proteger o clima e o meio ambiente, mas é difícil imaginar um processo harmonioso de ratificação pelos países europeus enquanto o governo brasileiro permitir a destruição dos pulmões verdes do Planeta Terra”, disse Tusk em nota.
O pacto tem sido ponto de divergência entre nações europeias, que estão divididas sobre até que ponto a crise na Amazônia deve influenciar as relações comerciais entre UE e Mercosul. Enquanto a Irlanda se aliou à França e disse que também não ratificará o acordo, Alemanha e Reino Unido defendem sua manutenção.
Os líderes das maiores potências econômicas avançadas – Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, além da União Europeia – estão reunidos até esta segunda-feira, na localidade balneária de Biarritz, a fim de debater a ameaça de recessão global e a mudança climática, entre outros temas de peso.